CHUVAS DENTRO DA NOITE

Dormindo, sentia que gotas serenas saltitavam no teto que me abrigava. Gosto de chuva que cai. Cheiro de terra molhada.

Acordei. Constatei que a chuva era real. Nada além das gotas inúmeras fazia barulho. Silêncio... Silêncio...

Meu coração, dentro da noite, entre as gotas e o silêncio, pulsava tão alto que se assemelhava ao ampliado tique-taque de um relógio. Mas relógio que sente! Relógio que ama! Relógio carente da presença de quem não sei o que faz nem como se encontra:

CHUVAS DENTRO DA NOITE

É imprescindível o cair da chuva

abaixo das palhas. Nas telhas. Na terra.

Vê-la descer, olhando-a atenta.

Contar-lhe as gotas. Ouvir-lhe a música.

Sentir cheiro de terra molhada.

Vontade de unir corpos, almas, espíritos.

Banhar-se total o corpo, cabeça e membros.

Sentir-se lavada. Puramente lavada.

Hoje, na noite, sai este poema.

É chuva que cai. É saudade doída.

Ânsia de te ter nos braços, perenemente.

Afagar-te os cabelos, o corpo inteiro.

Percorrer todos os teus caminhos e ganhar

o direito único de te ter sempre.

Mas quem posso ter com segurança,

que não seja exclusivamente o Filho do Homem?

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Do livro “Caminhos Mais”, Edição da autora, Teresina, 1995, página 50.

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Francisca Miriam
Enviado por Francisca Miriam em 24/01/2011
Reeditado em 30/09/2013
Código do texto: T2748274
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