CHUVAS DENTRO DA NOITE
Dormindo, sentia que gotas serenas saltitavam no teto que me abrigava. Gosto de chuva que cai. Cheiro de terra molhada.
Acordei. Constatei que a chuva era real. Nada além das gotas inúmeras fazia barulho. Silêncio... Silêncio...
Meu coração, dentro da noite, entre as gotas e o silêncio, pulsava tão alto que se assemelhava ao ampliado tique-taque de um relógio. Mas relógio que sente! Relógio que ama! Relógio carente da presença de quem não sei o que faz nem como se encontra:
CHUVAS DENTRO DA NOITE
É imprescindível o cair da chuva
abaixo das palhas. Nas telhas. Na terra.
Vê-la descer, olhando-a atenta.
Contar-lhe as gotas. Ouvir-lhe a música.
Sentir cheiro de terra molhada.
Vontade de unir corpos, almas, espíritos.
Banhar-se total o corpo, cabeça e membros.
Sentir-se lavada. Puramente lavada.
Hoje, na noite, sai este poema.
É chuva que cai. É saudade doída.
Ânsia de te ter nos braços, perenemente.
Afagar-te os cabelos, o corpo inteiro.
Percorrer todos os teus caminhos e ganhar
o direito único de te ter sempre.
Mas quem posso ter com segurança,
que não seja exclusivamente o Filho do Homem?
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Do livro “Caminhos Mais”, Edição da autora, Teresina, 1995, página 50.
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