Ramalhete de mim

Ramalhete de Mim

Eu margarida

Plantada em canteiro alheio

Desestimando a guerra e pedido paz

Para as rosas vermelhas, azuis e amarelas.

Eu violeta

Alegre, feiticeira

Ávida pela luz do sol

Vegetando num pobre vaso de plástico.

Eu bromélia

Suspensa no ar, agarrando vida

No vento e na chuva

Encharcada de lágrimas, sem chão, sem calor.

Eu onze-horas

Florzinha à toa, insignificante

Que nasce em qualquer lugar

Sempre com hora marcada para desabrochar.

Eu bem-me-quer

Cheia de vida, cheia de amor

Querendo proteger, juntar o que é meu

Num abraço, no colo, no alcance do olhar.

Eu azaléia

Colorida, faceira

Enfeitando jardins, perfumando o ar

Retirando energia de um sorriso vulgar.

Eu orquídea

Sofisticada, elegante

Planta nobre, esnobe, vestido cetim

Deixando que levem a vida de mim.

Eu perpétua

Desbotada, agrupada, sem graça

Trajando uma vestimenta lilás como mortalha

E agarrada a dezenas de outras iguais

Tentando ser eterna. Pobre de mim.

Perpétua Amorim
Enviado por Perpétua Amorim em 27/10/2006
Código do texto: T274873