Paralaxe
Em que espelho ficou perdida a minha face?
Cecília Meireles
A poesia tresanda
no tempo. Posso dizer?
Amanhã não vale. Hoje, desejo.
Assoviar pelas ruas. Cair.
Lembrando que os poetas vão ao chão
sentindo o vento no rosto,
sorvendo o medo
que trescala o coração.
O dia tritura,
minhas palavras.
O catavento ama a angústia.
O poeta não desfralda,
o verso esquecido no pensamento.
É apenas um cadáver
sem sangue
sem osso.
sem identidade.
sem rosto.
sem podridão.
sem cheiro.
sem razão,
sem ideia, sem existência.
sem u
n
i
d
a
d
e.
sem dicionário,
sem salário.
sem rima rica,
tampouco pobre.
O cisco caí
instântaneamente cega.
Meu ângulo,
já não causa naúsea
em nenhuma dimensão
no espírito que estava em ossos.