Paralaxe

Em que espelho ficou perdida a minha face?

Cecília Meireles

A poesia tresanda

no tempo. Posso dizer?

Amanhã não vale. Hoje, desejo.

Assoviar pelas ruas. Cair.

Lembrando que os poetas vão ao chão

sentindo o vento no rosto,

sorvendo o medo

que trescala o coração.

O dia tritura,

minhas palavras.

O catavento ama a angústia.

O poeta não desfralda,

o verso esquecido no pensamento.

É apenas um cadáver

sem sangue

sem osso.

sem identidade.

sem rosto.

sem podridão.

sem cheiro.

sem razão,

sem ideia, sem existência.

sem u

n

i

d

a

d

e.

sem dicionário,

sem salário.

sem rima rica,

tampouco pobre.

O cisco caí

instântaneamente cega.

Meu ângulo,

já não causa naúsea

em nenhuma dimensão

no espírito que estava em ossos.

Ton Machado Guimarães
Enviado por Ton Machado Guimarães em 25/01/2011
Reeditado em 23/04/2011
Código do texto: T2751992
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