O TRAVESSEIRO

dentro de ti,

quentinho e abafado,

mora a confidencia de todas as mulheres

e um espaço onde possa esconder todos meus segredos

ao teu lado

revelados, nossos retratos

como tontos, falam com prazer

para a fotografia sem mesmo ter o que dizer

ao branco, ao preto, aos inversos

dos negativos perdidos.

dentro de ti,

com pena ou convencional,

existe a paz espreguiçada por todas as amantes

e um canto em comum onde possa esconder todo meu prazer

em tua volta

confortável, nossa almofada

como tantas, de costas para a casa

num vai-e-vem sem novela das oito com pizza

guerreia pelo amor redondo,

imprevisível ao sono.

dentro de ti,

lírico muro de lamentações,

transborda o choro de todas as namoradas mal dormidas

e um aguardo ansioso por notícias da minha ausência em teus sonhos.

durante o dia

perdidos, nossos diários

como tolos, esqueceram os amigos

quando tornamo-nos cúmplices do falar maduro

e dos dizeres inesgotáveis

das confidências em plenitude.

dentro de ti,

compotas e doces de leite,

lambuzam os lençóis de todas as ninfomaníacas

e sob ele escondo minhas mãos e todos os dedos mordidos.

em tua noite,

movimentas nossos sentidos

como todos, embaralhados e confusos

reconhecem-se concretos, amantes e abstratos

no carinho do esparadrapo

ou no chuveiro respingando gozo. .

dentro de ti,

os olhos remelados

do travesseiro arrumaram as malas

e despertarem atônitos, no outro lado da cama.