ALZIRA DE CARA E CORAGEM

Cedo,

um resto de marido

ainda se acomoda pela cama.

Alzira,

em homenagem explícita ao nome da avó,

teve medo de sair de casa à-toa,

de dar um beijo de “até logo”

ao marido que roncava

sobre o espaço

que daria até para dormir à dois: abraçados!

Tarde,

se encantou pela rua

vista distante da vontade de fugir.

Alzira,

na felicidade visível do despertar do sol,

de olhos luminosos qual janelas

arriscou, empenhou a aliança

ao pedreiro que tecia

paredes e pedaços

da construção aos ruídos da sina: amasiados!

Cedo demais

para por no varal as calcinhas para secar

para fugir com mala velha e usada achar a rua

em tempo, ainda, para esconder as celulites do espelho

e coragem para abandonar o homem que acorda e deita só pra trepar.

Tarde demais

para na cama, pronta para amar, descansar

para conseguir um crediário, um fogão em liquidação

sem choro, sem saldo, um rosário de cebolas na cozinha

e a ousadia de perder o amante, a cerne-farsa, o pedreiro companheiro.

Alzira,

com nome herdado da avó

abriu a porta da rua e não fugiu de casa.

Os paralelepípedos estão gastos e o sol esmaecido.

Hereditariamente, Alzira não saiu: mofou.