PATCHWORK
Um passo pra frente
dois passos pra trás
assim me (des)construo
tecendo e destecendo
a trama de minha vida
atribuindo-lhe novos significados
matizes
texturas
Penélope de mim mesma
Sigo veredas
que não levam a lugar algum
utilizo métodos
que já se mostraram improdutivos
aro terras inférteis
rego sementes que não germinam
ouço profecias (utopias)
de oráculos cegos
acredito no canto das sereias
Nada em vão, no entanto
como Sócrates
aprendendo uma ária com flauta
enquanto se lhe preparavam a cicuta
Pra que?
Pra aprendê-la antes de morrer
só isso
Estendo a mão
para um vilão
dou (mais) uma chance
ao traidor amigo
como uma criança
que de nada desconfia
me dôo para amores
que não se concretizam
Explodo em lágrimas
após cada – previsível – perda
quando não, resignada, sorrio
mas jamais me esqueço
de retornar ao caminho
porque a verdadeira viagem
nunca é de ida
e sim de volta
como a de Ulisses
Ana Guimarães