PATCHWORK

Um passo pra frente

dois passos pra trás

assim me (des)construo

tecendo e destecendo

a trama de minha vida

atribuindo-lhe novos significados

matizes

texturas

Penélope de mim mesma

Sigo veredas

que não levam a lugar algum

utilizo métodos

que já se mostraram improdutivos

aro terras inférteis

rego sementes que não germinam

ouço profecias (utopias)

de oráculos cegos

acredito no canto das sereias

Nada em vão, no entanto

como Sócrates

aprendendo uma ária com flauta

enquanto se lhe preparavam a cicuta

Pra que?

Pra aprendê-la antes de morrer

só isso

Estendo a mão

para um vilão

dou (mais) uma chance

ao traidor amigo

como uma criança

que de nada desconfia

me dôo para amores

que não se concretizam

Explodo em lágrimas

após cada – previsível – perda

quando não, resignada, sorrio

mas jamais me esqueço

de retornar ao caminho

porque a verdadeira viagem

nunca é de ida

e sim de volta

como a de Ulisses

Ana Guimarães

Ana Guimarães
Enviado por Ana Guimarães em 28/10/2006
Código do texto: T275825