Férias de Descartes

Todo dia eu penso que vai ser o fim do mundo

Olho para o céu às dezoito horas e me sinto aflito como se ele fosse cair

E há milhares de livros na estante que fecha a parede do quarto

O computador monotonamente ligado não presta pra animar

A cabeça gira; há um quadro extremamente chapado na parede

Cuspo pela janela pra ver se tudo está no lugar

O cuspe cai

Na minha cabeça

Uma gota

Duas gotas

Zero gotas

O céu desaba

Primeira hipótese, descarte,

segunda hipótese, descarte,

terceira hipótese, Descartes

E assim sucessivamente

Leio algo e me sinto reabastecido

Preciso descarregar

Ações desconexas porque não posso pensar

Não existo

Porém tudo está

A menos de um milímetro de alcance

O computador responde

Olá

Eu escorro e tropeço no pára-brisas

Que me espalha no quarto

Não é fácil me reagrupar

A quem recorrer?

Pausas semibreves

E a poesia retorna no contratempo

De uma melodia sincopada

Mas é muito besta tal pretensão

É como achar o não-pensado

As gotas brincam nas barbas do desconstrutor

Verme
Enviado por Verme em 28/10/2006
Código do texto: T275942