Hoje grito de novo em surdina
Hoje grito de novo em surdina
Hoje que nada me anima
Rasgo à folha a brancura
E expulso da alma a loucura
E esta tristeza vaga quase banal
Que se acumula nos meus dias, letal
E me consome a alma lentamente
Numa dor constante e ardente
Hoje que nada me sustêm
Deito as esperanças à folha
Que não as quebra, que é ninguém
Hoje tentei em vão tirar do rosto
As tristezas que depois do sol-posto
A alma me levarão
Deixando o meu ser esquecido
Solto desgarrado mas perdido
Por onde os sonhos já não vão
Hoje grito da alma a saudade
De uma qualquer antiga tarde
Onde de azul um pedaço bastava
Onde o tempo mais leve e solto passava
Onde alegre sem razão sorria
E pelas ruas corria
Quase feliz sem o saber
E com a cruel vontade de crescer
Que me faz hoje gritar a morte
De mais esta criança sem sorte
Que perdendo-se no tempo
Se deixou levar no vento
E morreu em mim
Deixando-me apenas
A dolorosa lembrança do que perdi
Naquelas tardes serenas
Onde por crescer morri
Tiago Marcos