Ode às rugas

Ó pálida senhora de detonados anos

Vil guardiã dos desesperados dias

Maschera maledetta, per sécula seculórum

Puta velha em nostalgias

Fui contemplar-te na casa dos desencantados

No leito dos desenganados, entre bisturis

Amarga irmã, amarga rima

Verso mais triste de Bilitis

Que dor olhar-te no rosto dos poetas

Em seio flácido das indias Carijós

Na face meiga e rosa das Itálicas

Nas múmias imundas dos Faraós

Ah! Como te odeio vampirona

Carne envelhecida e sem compostura

O teu espelho reflete toda mágoa

Tonel de tédio e amargura

Maldita tu entre as mulheres

E entre homens como eu, em flor

Musa reversa, ladra que vem

Roubar meus dias de esplendor