Talvez

Talvez o medo nos faça pra sempre reféns,

prisioneiros de nossa incompetência sentimental.

Que nos faz incapazes

de dizer o eu te amo tão esperado,

ou abraçar um corpo carente

que vive a morrer a nosso lado.

Talvez fechemos os olhos

pra não ver os olhos que nos olham,

e tapemos os ouvidos

pra não ouvir os sons que nos seguem,

quando somos sua única chance de ouví-lo,

e nós insistentemente tentamos calar.

Talvez passemos a vida

a cruzar os braços diante a culpa

por nossos pecados diários,

chorando mágoas que não temos,

mas que alimentamos,

crentes que é tarde de mais pra esquecer, ou perdoar.

Talvez tranquemos portas e janelas,

para que por ela não passe nossa chance de libertação,

que queremos, mas tememos,

vítimas de nossa própria repressão.

O medo nos faz ao longo de nossas vidas,

construir barreiras, fortalezas,

refúgios, e até mesmo correntes,

que nos prendem e nos afastam da difícil missão

que é viver sem ele,

quando...

por medo de amar sofremos,

por sofrer nos escondemos.

Por medo de perder alguém,

cuidamos, ou nos negamos a tê-lo,

por medo do abandono.

Por medo de falar calamos,

de ouvir ensurdecemos,

e para não ver nos cegamos.

Por medo de saber, ignoramos.

Por medo de ficar, fugimos.

Por medo de gostar,

propositalmente desgostamos.

Por medo no novo, rejeitamos.

Por medo do velho, esquecemos,

temendo também as lembranças.

E através do medo nos tornamos herois,

pois no fundo sabemos que perder o medo,

é perder também a coragem.

Coragem de lutar por aquilo e por quem amamos,

e de nos protegermos de nós mesmos,

quando somos nosso maior,

ou talvez único inimigo.

29/07/2009

Silvana Rodrigues
Enviado por Silvana Rodrigues em 07/02/2011
Reeditado em 02/07/2013
Código do texto: T2777807
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