Passado
Defronte a um velho armário,
Abaixo de um lugarejo.
Corpo cansado, alma fugaz.
Aquela velha caixa. Aquele velho lugar.
Ora,
Passou-me um breve filme.
Longas cartas,
fotografias,
objetos.
Aos poucos, meu dedos velhos, enrugados,
junto a minha vista tão ruim,
foram folheando
aquelas páginas,
daquele livro, daquela caixa.
Lembrei-me daquela passada amizade,
Daquele antigo soneto.
Daquele amargo amor.
Daquele meu único amor.
Primeiro poema.
Aquela linda história,
Aquela gravura tão pequena,
Dentro daquele diário desgasto.
Belo tempo passou,
Belo tudo, passou.
E eu, fiquei aqui, só, somente só.
A espera da tua volta,
a procura de outro tu.
Relendo a história,
Delirando meu pavor.
Decifrando nosso enredo.
Fútil palavras,
Porém tu, abandonou vosso diário,
Deixastes pendente.
Página que
completaria-nos.
Aquele baú pequeno, velho,
Porém exala ainda, o belo cheiro novo.
Ali, onde guardei o que tínhamos iguais.
Ali, não me veio mais coragem para abrir.
Porém abri, logo senti, breve fechei.
Ficastes novamente ali,
fechado com aquele baú,
Aquela melodia nossa, hoje escuto,
nada me sofre.
Abandonastes porque quisestes,
Amastes, porque quisestes,
Esqueci-te porque quis.
Aquela linda história,
Lindas cartas,
Fotos, objetos,
Hoje nada mais me sofre.
Hoje, somente recordo.
Daquela bela juventude,
Guardada naquele velho armário,
Naquele mofado lugarejo!