Dizei

Diga-me quem não dança

Com a melodia rompante

Dum afectuoso beijo ?

A coreografia murmurada

Dos lábios húmidos que

Obedecem à regência do

Soberano mestre, o desejo,

Encanta a qualquer alma

Destas vastas terras serenas...

Diga-me quem não se cala

Ao ver uma pobre lágrima solitária

Traçar seu caminho pela face

De um coração apenas apaixonado?

Seja qual a dor da saudade,

Seja qual o vigor da felicidade,

Terá sempre, a lágrima perdida,

A trilha bárbara já traçada

No rubor duma pele morena...

Diga-me quais olhos não se fecham

À saborear um vago e deleitoso aroma?

Deporta à boca a imagem degustada

Para esta ruminar plena,

Porém vazia, repleta apenas

Do salivar intenso

Que lhe recobre por inteiro

E assanha aquela vontade pequena...

Diga-me quem não se encanta

Com o embriagar colérico

De uma alma dilacerada?

A alquimia destilada

Dum exímio boticário

Entorpece uma dor inesperada,

Tão primitiva quanto eterna,

Como o alvor lírio

Dum campo florido de açucenas...

Antonio Antunes
Enviado por Antonio Antunes em 31/10/2006
Código do texto: T278651