Ironia

Ah querido, como te amei.

Amei-te por dias e noites,

não por quinze contos de réis,

mas por cinco cabeças de gado.

Fitei teu olhar, triste, severo,

loucamente deitei-me, em tua cama.

Para ver-te repousando, por lençóis de capim.

Ah querido, que vida tiveste,

que vida me dera.

Que vida me deste,

à não ser a falta de calar-te,

quando mais lindo verso,

estragava tu, recitando-me com tremor.

Pobre homem fostes tu.

Gago, manco, e feio.

Pobre dos teus lençóis,

poros que exalavam um podre perfume.

A ironia, fez-me teimosa,

de tal ambição.

Ah querido, que bom que nunca souberas...

Que amei-te pela carência que aparentavas tu,

e pelo beijo que tu sabia dar-me, ao menos isto sabias.

(Baseado em Memórias Póstumas de Bras Cubas)

Marinara Sena
Enviado por Marinara Sena em 14/02/2011
Código do texto: T2790504
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