Ironia
Ah querido, como te amei.
Amei-te por dias e noites,
não por quinze contos de réis,
mas por cinco cabeças de gado.
Fitei teu olhar, triste, severo,
loucamente deitei-me, em tua cama.
Para ver-te repousando, por lençóis de capim.
Ah querido, que vida tiveste,
que vida me dera.
Que vida me deste,
à não ser a falta de calar-te,
quando mais lindo verso,
estragava tu, recitando-me com tremor.
Pobre homem fostes tu.
Gago, manco, e feio.
Pobre dos teus lençóis,
poros que exalavam um podre perfume.
A ironia, fez-me teimosa,
de tal ambição.
Ah querido, que bom que nunca souberas...
Que amei-te pela carência que aparentavas tu,
e pelo beijo que tu sabia dar-me, ao menos isto sabias.
(Baseado em Memórias Póstumas de Bras Cubas)