A última vez

Ex amor!...

Onde possas me ouvir,

Perdoas à ignorância dessa menção,

Ainda que não te tenhas visto em paixão,

Recordo-te em comunhão...

Nossas filhas,

Nossas obras eternas,

São marco de visão.

Por instantes sou grato

E guardo de ti como última aparição,

O dia, em que o teu corpo revelou-me a dor da situação.

Não havia escadas,

Não havia água...

E a luz era tão escassa...

Como se a gente estivesse na encruzilhada do nada,

Como se o limite limitasse até as mãos...

Essa desgraça não queria para nenhum cidadão,

Infelizmente é o contrato dos miseráveis com a burguesia.

Sob o verbo da poesia de um último suspiro

Vi o mundo cair, havia agonia no sorriso das minhas filhas.

Pude sangrar motivado pela tua luta,

Perguntei a Deus perguntas absurdas.

Da mulher bem sei o homem que te dei,

Não fui a tua metade,

Faltei com a verdade...

Não te amei.

Penso que por causa da idade

Faltou-me amadurecimento.

Ma só lamento não poder ver quão

Forte foi a voz do querer.

Na ordem dos compassos,

Quando te vi jurar a morte,

Em branco e roxo;

Em hinos fúnebres de dores cinza e

Vestes tristes de lágrimas de perdas.

Calei-me a alma procurando entender a tua partida.

Não havia versos livres,

Pois as bocas se entregaram as orações.

Não houve pecado sem redenção

E os livros são sentidos em ficções,

Pois que a dor, a dor doida,

É tão sentida que nem em quadro podemos descrever.

Ao redor, entre os olhares e a incompreensão da tua falta;

Entre a chuva fina e a terra molhada,

Cujos pássaros das árvores secas ao entardecer,

Não poupavam elogios;

Cujas flores entregues, semi apagadas não versavam, a cor ou o perfume de ti,

Enobreciam a tua despedida.

Não fostes da realeza, ouro ou baronesa,

Mas tu, num último adeus,

Parecia dormir sem medo,

Sem feridas, como uma princesa.

Alberto Amoêdo
Enviado por Alberto Amoêdo em 18/02/2011
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