Poesia de um caipira sucedido
Sô um homi da cidadi
Istudado em facudadi
Tenho diproma e tudo.
De quando em vêis
Eu uso meu ingrêis
Prás coisas que istudo.
Gosto da sabiduria
Das côsas do dia a dia
Desti mundu atuá.
As nutiça corre o mundo
E num quero sê muribundo
Di tudo que é informá.
Mas toda vez qui mi deito
Dibaixo da mangueira com o lépi tópi no peito
Mi ponhu a pensá:
O mundo tá mesmu isquisito
Prá tudo que é lado é furniquito
Diante das órdi mundiá.
Os cheiqui do petrói mandandu.
Os Istêitis duminandu
E tudo parece belezura.
Tem o aquicimento grobá
Que tá fazenu tudu isquentá
Qui nem água na firvura.
Disimpregu aus mônte
E tem quem ainda conte
Que tudu vá miorá.
Tamu de presiedente novo.
Quem ilegeu foi o povo
Uma muié pra guverná.
Nu meu tempo ixistia
Menus bagunça e anarquia.
Tudo era deferente.
Com poco dinhêro ainda se comia
Tirando do povo a barriga vazia
Com côsas mais condizentes.
Cumecei trabaiá cedo
Isfolando na inxada os dedo
De manhazinha na lovôra.
Dispois tirá leite, torrá café
Dibruiá ispiga de mio no pé
Cortá piassava pa vassôra.
E quando sobrava hora
Tocava moda de viola até a orora
Pra ispantá um poco do sufrimento.
E foi então em braba lida
Que resorvi mudar de vida
E miorá us pensamentu.
Juntei dinhêro e corage
Na ruduviária comprei a passage
E sai em busca de vida nova.
Cidadi grande mete medu
E iscondi muitos segredu
Mas tumém um pé na cova.
Via em revistas homi granfino
Vistindo ternu, sapato bicu fino
E nus dedo e piscoço muito ôro.
Carros bunitos dimais da conta
Qui só de andá a alma fica tonta
Sentada naquelis bancu de côro.
Arrumei lugá pra dormir e trabaiá.
Mais dinhêro comecei bataiá
Prus meus pranos nu futuro.
Fiz biscates a troco de ismola
Di noite istudava numa iscola
E de dia trabaiava duro.
Eu era ainda garoto
Largado, pobre, roto
Mas cum vontade di vencê.
As diversidades do novo
Cumendo pão com ovo
Bebendo água pra sobrevivê.
Chorava di sodadi
Dus parentes e de minha cidadi
Mas minha força era maió.
E foi com muita insintênça
E tumém com muita paciênça
Da mesma que teve Jó.
Que fui aprendendo a cunvivê
Com us lobos que tentam ti cumê
Atráis de uma tar de promoção.
Na cidade grande se aprendi
Que aquele que muito se rendi
Vira carniça pelo chão.
Com o tempu me formei
Eu quase num acreditei
Que havia cunseguido.
Um minino de roça e brejo
Ter vencido as dificudadi dum coléjo
Com pôco istudo na roça aprendido.
Pra facudadi foi um esforço
Ingual cumê angu de caroço
Quando não se tem o que cumê.
De trabaio miorado
Com o que o istudo tinha me dado
Cumecei a ingrandecê.
Tive que miorá meu sutaqui
Falar errado na cidadi é um báqui
Onde é motivo de chacota.
Fui diminuino us êrro de portuguêis.
Aprendi a falar cum pulidêis
E me tornei poligróta.
Hoje falo trêis lingua
Quasi me causou uma íngua
Di tanta dificudadi.
Mas vi que foi necessáro
Isto aumentou meu saláro
E minhas oportunidadi.
Virei homi maduru
Di ternu, gravata e futuru
E um mundo pra ganhá.
Construi muita côsa
Arrumei uma bela muié como espôsa
E lugar bom di si morá.
Tivemos três fios
Meninos por dimais sadios
Que me deu orguio e alegria.
Tão tudo istudando
Daqui a pouco se formando
E vão virá doutô.
Minha muié é formada.
Juíza doutôrada
Também com isforço e isprendô.
E então tu me perguntas
De suas dúvidas que ai juntas
Ao ler texto tão errado.
A vida me ensinou a humildade.
Que para se ter a felicidade
É preciso lembrar do seu passado.
Vejo pessoas importantes
Que se tornaram arrogantes
Quando alcançaram o sucesso.
Mas se esquecem das raizes
Onde lá trás de alguma forma, foram felizes
Mas acham que lembrar disto, é um regresso.
Fruto nenhum cai longe do pé.
Não existe força na vida sem fé.
E tudo que plantamos é semente de suor.
Quando não acreditamos no que fazemos
É porque talvez nos esquecemos
Que sem Deus tudo fica muito pior.
É Deus quem rega tudo
É Ele quem nos dá a espada e escudo
Para vencermos tanta guerra.
Planta fora do vaso morre.
Água desperdiçada escorre
Para os grandes sulcos da terra.
Precisamos nascer e sermos semente
Pois tem pessoas que dependem da gente
Para dar o exemplo e a sina.
Viver é uma forma de mostrar
Que tudo de bom devemos aproveitar
Fatos que só a vida ensina.