Casa de Periferia

Tem horas...

Tem horas,

Que a gente se pergunta pela morte,

Abandona-se a própria sorte,

Questiona as coisas que fazem o viver.

O homem sai de casa para o trabalho,

Sem tomar café, sem deixa comida aos filhos,

De sandálias, com a única peça de roupa que dispõe.

Sua mulher,

Uma eterna diarista,

Anda na rua como turista,

Nem sempre sabe o que vai acontecer.

Mora em palafitas,

Sonha como artista,

Cultua milagres da tv.

Não entende de política,

No meio das reclamações é um mero humorista,

De religião, enquanto está no inferno,

Pouco que saber.

Já acostumado a rotina,

Joga lixo no chão,

Reclama e não faz a solução.

Passa o fim de semana bebendo no bar do Luizão,

Seu menino quebra o orelhão,

Enquanto o filho da vizinha,

Por ser mais esperto vive na prisão.

Assiste calado falarem de corrupção,

Como ignorante se indigna,

Sem saber expressar opinião,

Mas logo abençoa o presidente,

Que diz investir em educação.

Assiste aos políticos triplicarem seus salários...

Como ignorante se indigna,

Mas assiste o mínimo,

Assiste pessoas no centro de saúde morrem sem atenção.

Não tem água encanada, não tem luz,

Rua asfaltada, emprego ou lotação.

Mesmo assim, votam errado nas próximas eleições.