O envelhecido ator das madrugadas
Houve um tempo em que dormia tarde para vê-lo
Crescia um jovem nesse admirável velho mundo
Encantado com suas velhas criaturas imundas
Até que...
Banido foi de minha presença
Arrancaram-nos um do outro sem maiores explicações
A sentença: Grade de horário, nova programação
“A emissora não se responsabiliza por eventuais alterações sem prévio aviso”
E a madrugada mais preta e branca ficou
Oh, querido velho artista, como vão as suas dores?
Em qual companhia brilhará?
Serás novamente protagonista?
Qual será, na Hammer, o cast de novos atores?
Como está Sua Majestade?
Sente-se bem, meu Rei?
Tirei-o do túmulo e, agora...
... És tão injusto comigo
Acaso, sente-se feliz?
Por atar-me nessa poltrona fumegante
As lágrimas queimam o meu rosto
As chamas não...
... Queimam minhas melhores intenções
Preste atenção, eu disse:
“Minhas melhores intenções”
Trouxeram-me o maior dos males terrenos
Irrompam-se agora, todo o ódio e o desprezo
Só assim, retiro-me de tua presença, antes
Fique mais um pouco, fique com as batidas do meu coração
Fique e ouça minha máxima oração
Fique e ouça os rugidos das gárgulas
E eles vêm do telhado gótico do teatro abandonado
Tolas estátuas de pedras e seus lodos verdes
Serão queimadas vivas, há fogo por todo lado
Se eu tivesse olhos para guiá-las
E língua para dirigi-las
Salva-las-ia; fingiria um novo ato
Que se chamaria: “A melancolia de Maria”
Eu sei quando se vive e quando se morre; basta cobrir com um lençol
O suposto corpo e, ficamos tão mortos quanto à Lua que brilha sobre a Terra
Entretanto, devemos admitir, sem exageros
Ela sabe muito bem como usar a luz do Sol
*A Vincent Price: 27/maio/1911 - 25/outubro/1993