TULIPA SUADA
Suadas,
as tulipas de chope
cansadas de digitais
bêbadas, sem sentido
ainda falam bobagens de fim-de-tarde.
os homens, quando moços,
imaginam que se tornam realmente homens
quando uma mulher, desconhecida, o faz tarde cedo.
Na calçada
outra menina passa
com aquela cinturinha de vespa, fininha...
com atributos de tanajuras após verão e chuva.
É hora de flertar e assobiar
pela anatomia da estética
fazendo um poeminha só de brincadeirinha
no guardanapo dos bares onde torpedos
eram brincadeiras de quebra-línguas.
os homens, quando jovens,
desapegados do lado avesso dos espelhos
deixam de ver a aparência guardada em si mesmos.
num pulo de gato
saltam da cama,
esquecem de dar bom-dia
ao cão, à mãe, à flor...
não tomam banho nem escovam os dentes,
de camiseta rasgada e bermudão colorido
passam parafina na prancha
fumam maconha e bebem até tarde
inconscientes da farra molhada suada nas tulipas.
há tempo de sobra, imaginam,
para se encantarem com a beleza necessária
e que terão tesão suficiente para comer todas as princesas
até mesmo quando castelos lhes falte,
há tempo o suficiente, se iludiam,
para crescerem sem sentir o pinicar da barba
e deixar sempre para amanhã o encontro com a maturidade
até mesmo se o bigode cobrir-lhes lábios.
Cansadas,
as tulipas de chope
suadas de saudade,
na sede de um gole gelado
brincam de brindar pela noite adentro.
Na calçada vazia
mais um bar anuncia que será fechado
enquanto os apartamentos estão mais e mais acesos.
É hora de guardar a casa,
de dormir um pouco mais cedo,
de dar um boa-noite ao cão, à flor no chão,
um beijo de cuidado no filho adormecido
e outro de carinho na companheira.
E se esse homem
que errou e acertou, como todo jovem,
subir às duas da manhã pelo elevador cansado
trazendo uma rosa, de qualquer cor, para a amada que dorme,
foi porque ajudou a enterrar o amigo ainda jovem,
sem família, que exagerou na tulipa suada.