CURRICULO


Meu currículo não é extenso,
Se resume a esse verso sem rima
A essa canção desritmada,
A essa nostalgia que nunca passa.
Não sou bacharel, nem doutora, nem estudante.
Sou apenas esse instante, esse sopro leve e passageiro.
Nada de bagagens, nem diplomas, nem concursos...
Meu currículo é apenas esse susto, essa folha em branco...
Não deixarei herança além desse caderno, além desse poema...
Algumas fotografias, alguma outra bugiganga a que me tenha escravizado,
Tipo aquelas coisas que a gente nunca consegue jogar fora, embora não tenha nenhuma utilidade... Tenho um monte delas, alguém as jogará fora por mim um dia.
Onde pousaram meus sonhos? Na verdade eles ainda continuam voando por aí, por isso talvez a página ainda esteja em branco.
Talvez me falte arrebentar as amarras, as correntes que me prendem e prendem e nem mesmo sei por que, nem ao que elas me atêm.
O tempo não facilita também,
Tem tanta pressa em passar e passa tão veloz
Que a gente nem vê...
É difícil aceitar que a gente durma bonita
E acorde envelhecida...
Que o tempo nos castigue
E num piscar de olhos,
Tinja nossa fronte de brancos,
E sulque nossas faces,
E enferruje nossas juntas,
E ainda exija de nós um currículo apresentável,
Um inglês fluente,
Ser expert em informática,
Saber aplicar o dinheiro,
Eleger os líderes certos,
Colocar silicone, botox, fazer peeling, unhas de porcelanas...
Sim, porque o tempo acelerado como um trem bala vem trazendo com ele uma enxurrada de novidades,
E a gente que se vire nos trinta com tanta modernidade.
Dormi 43 anos, que sono breve, que sono leve...
E durante esse sono embalei os meus anjos, meus passarinhos que já voaram do ninho,
Ainda ontem cantava canções de ninar, juntava os brinquedos espalhados pela casa,
Fazia pipoca com leite condensado, ia as reuniões escolares, ajudava nas tarefas da escola, brincava de chutar bola, de fazer roupinhas de boneca.
E agora esse vazio, essa saudade, essa lacuna no currículo, essa vista fraca,
Essa necessidade de reunir força e coragem
Pra encarar o desconhecido, mas como disse
Elisa Lucinda: - Não importa se erramos no começo, o importante é que podemos mudar o final.





Laura Duque
Enviado por Laura Duque em 28/02/2011
Reeditado em 29/12/2011
Código do texto: T2821091