Meditações no cerrado
I
uma borboleta me distrai
asas no ar
uma floração de cores
se espalhando
no espaço
nada sei do mormaço das cidades
nem das janelas fechadas
aqui as tenho abertas
escancaradas para o mundo
um sol
um chapéu
joelhos dobrados
de cócoras acendo um cigarro
um sol que arde
vermelho como um tição
chicoteia nas calçadas
e na moleira dos que passam na rua
e eu gosto de ficar assim
a fazer nada
quietinho à sombra duma árvore
observando o trabalho silencioso
das formiguinhas
escavando caminhos
aprendendo
com os
calanguinhos
o prazer de tostar
com as pedras
ao sol.
***