A dança

Dezoito horas...

Soa o sino,

Vem Deus menino

Na catedral ensinar,

Que a vida é para se amar.

Fecha o sinal.

Param os carros,

No cruzamento da padre Júlio,

Esquina com a Cândido Mendes.

O sol, que brilhava se esconde de repente atrás da Fortaleza.

Milhares de andorinhas,

Que nem figurantes descansam na fiação,

Esperando a hora da chamada.

Vai e vem à brisa do rio mar,

As mangueiras começam a cismar,

Com as cigarras, bentivis e sabiás.

Vai e vem a folha do coqueiro,

Como num leito cativo faz a paz sossegar.

Lá no ar,

A liberdade solta aos olhos dos pecadores,

Pergunta sem nome por que amordaças na alma?...

Por que?...

Por que justiças injustas,

Vaidade no luxo, se a vida é só para se alegrar.

Lá no ar...

Soltas, andorinhas.

Juntas em circulos, vão e vem,

Vem e vão em roupas simples.

Sem casa, sem terno, sem ribalta...

Soltas, sem soberba em suas manobras razantes;

Soltas, asas abertas ao tempo,

Sobem e caem no vacuo lento,

Rasgando, suando,

Redemoinhando o coração,

Louvando a Deus paixão,

Ensinando a quem olha a amar.

Vão em vem até que a tarde escurece.