PENSANDO EM VOCÊ

PENSANDO EM VOCÊ

Chico Steffanello

Ah,

Tu queres então

Entrar na minh’alma,

Conhecer minhas dores,

A cor do meu sangue,

O calor do meu coração,

Saber se existo,

Ver quem sou?

Sim,

Entre!

Mas não sem bater primeiro

E saber que há um preço a se pago

Por aqueles que o quiserem fazer:

Poderás nunca mais

Livrar-se do silêncio que me acompanha.

Poderás chorar com as minhas dores.

Poderás viver de sobressaltos com a minha presença.

Mas, com certeza,

Nunca mais terás a paz

Se pensares que ela é a ausência do compromisso.

Entrar em minha alma

Significa que terás que deixar

A tua porta sempre entreaberta

Pois nunca saberás quando eu poderei chegar:

Entro sem bater,

Bato e vou entrando.

Se tiveres medo

Então nunca,

Mas nunca, batas a minha porta

Porque dentro dela andam nus

Todos os horrores,

Todas as marcas mentais

Que aqui me trazem de volta

E eu as vejo de olhos bem abertos

Para que comigo elas se espantem.

Não entres por curiosidade

Porque nunca acharas a saída

E ficaras vagando pelo imenso nada

Que há dentro dela.

Mesmo que,

Se ferida pelas farpas

Que andam a solta dentro dela,

Queiras sair de livre vontade

Terás que me pedir licença primeiro

Porque da minha alma só sairás

Depois que eu te pedir perdão.

Mas se um dia precisares de um nada,

De um alento qualquer,

De um riso,

De descansar um pouco

Sentindo o frescor de uma flor,

De uma brisa,

A quietude de um lago,

A presença de um amigo,

Bata e entre.

Encontrarás também

Uma fonte cristalina de pura força

Para beberes quando te falta a energia.

Do que há em minha alma

Tudo poderás levar

Porque nada é meu,

Por mais precioso que te pareças

Só me foi dado para repartir.

A soleira de minha porta

É larga e ampla,

Mas num repente

Fina como um fio

Se não entrares

Perdes o ponto.

Chico 15/09/99.

Chico Steffanello
Enviado por Chico Steffanello em 29/01/2005
Código do texto: T2845
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