Estátuas Para Morrer ou Espiar




Tinha os olhos imensos
de pupila branca em choro
vidrada de quem não via
enigma de riso ou choro

Mas

havia uma alma intensa
vibrando na pedra fria.

Era um santo sem prestígio
pedra sabão de um devoto
um louvor ao sacrifício
a dor como aprendizado
num lamento mutilado
mãos em prece de ex voto
fissuras de porcelana
em fendas de terremoto

Era a carne da madeira
tinha asas, colibri,
crianças de jacarandá
presas numa gameleira
guardavam uma lenda inteira
totem de morte de escrava
e um massacre guarani.

O
gesto doce inclinado
esculpido abraço fixo
preso em pedra de história
em granito, crucifixo
epitáfio à memória
a infância petrificada
morta cercada de vida
no meio do ar, parada,
a espiar o alvo_ bala perdida.

Elane Tomich