A RELIGIÃO DE COZINHA
Dizem os asseclas
Da Religião de Cozinha
Que quem come, peca
Essa é a sua ladainha
São eternos vigilantes
Dos amantes da boa mesa
Vigiam cada refeição ruminante
E o prazer da sobremesa
Não toleram em seus magros pratos
Qualquer forma de gordura
E vigiam com seus olhos fartos
Qualquer vestígio de fartura
Fazem de cada refeição
Que para uns, é afável
Um momento de grande tensão
E um fardo insuportável
Estão sempre insatisfeitos
Com o corpo magro que ostentam
Querem ter corpos perfeitos
E conquistar a perfeição, eles tentam
Exigem sempre de si
Como soldados de vida regrada
Uma comida sem sal e sem gosto
Mas com gosto de vida parada
Exigem sempre do outro
Uma saúde perfeita
A esbeltez de um sofrido corpo
E uma gordura tão rarefeita
Mas a saúde é como o dia quente
Dura como o sol a pino
Morre como o sol poente
Qual o dia que está findo
Não há refeição tão frugal
Que possa prolongar uma vida
Além do limite, é fatal
Sofremos uma grande descida
A morte vem para todos
Para os sadios e esbeltos
Para os glutões e os gordos
E para os que vivem de modo tão reto.