A MANGUEIRA DA MINHA INFÂNCIA
Em priscas eras perdidas
Dos meus sonhos pueris
Tive uma infância vivida
Uma vida flor-de-lis
Embaixo d’uma mangueira
Brincava inocentemente
Vivia sem eira, nem beira
Nem me julgava gente
No sítio d’um distante parente
Brincava com muito afã
Saltitava inconsciente
Na longínqua Canaã
Tenho vagas lembranças
Das minhas brincadeiras
Pulava como criança
À sombra de uma mangueira
Subia em seu tronco hercúleo
Parlava a imaginação
Por entre as folhas, cerúleo
Era o firmamento da visão
Foi debaixo da mangueira
Que dei o primeiro ósculo
Em minha prima brejeira
Tornei-me um anjo másculo
E da manga saborosa
Senti seu agridoce gosto
Descrevo seu fruto em prosa
E sua poesia em tira-gosto
A mangueira e seu fruto
Minha árvore, minha infância
Crescia como um pé-de-adulto
Amava como um pé-de-criança.