O vício

não quer sentir o gosto do remédio

não quer o tédio que não seja vício

já de início dispensa a verdade

que é, para si, impertintente:

ela não lhe reconhece dignidade,

ele dispensa sua patente

quer saber é da ignorância

quer saber da turbulência

o vício é um populista da maior eloqüência!

vende por preço alto o que nem tem valor

o vício é um horror disfarçado de santidade

o vício não escolhe idade, sexo nem cor

mas não é democracia! não se enganem!

profanem o vício, profanem!

não é certo nem errado

o vício é quadrado e quer te acorrentar

não o verá atravessar seu próprio mundo

ele vai cada vez mais fundo no seu poço vertical

o vício é, na verdade, um boçal disfarçado de importante

é pirata de um navio que deixou sem comandante

o vício avistará terras e proclamará até independência

com o selo oculto que perfaz sua enganadora transparência

Rômulo Arbo
Enviado por Rômulo Arbo em 09/11/2006
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