Orgia dos astros

"...À noite, cansada, teve que o partilhar com os outros amores de sempre. Era só hoje, pensou. Amanhã, daqui a uma semana ou a um mês, não se vai mais lembrar de pratas, nem de visitas tardias ao jardim da Estrela..." (Isabel Faria)

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Enquanto o passarinho carrega o verão

Nas suas enxutas asas,

Um sol ensandecido de paixão

Esquece os corpos na distante madrugada.

- A proximidade não significa amor!

Na solidão das areias silenciosas

Resguardam-se as pegadas

De homens casados de buscas.

- A liberdade tem ausência infinda!

Bem vindos à noite:

covil de amores (im)perfeitos.

- A alcova é o covil de almas ensandecidas.

Enquanto a sombra no cio prova da sobra

do sal da carne na orgia da madrugada,

Estrelas se confortam

No devaneio de amores desfeitos.

- E o efêmero é sempre eterno!

Abaixo da orgia dos astros,

Em corpos passageiros,

Sofre o excesso do tato

Que machuca almas descrentes.

- E a alma é sempre carente!

Nessa eterna orgia dos astros,

No compasso de seus rastros,

Haverá sempre a sobra do dia

de amores imperfeitos.

- E o perfeito será sempre afeito a defeitos!

Kal Angelus
Enviado por Kal Angelus em 09/11/2006
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