Tempestade virtual

Euna Britto de Oliveira

www.euna.com.br

Belo Horizonte, 1980

Tempestade armada,

e eu, antiga desamada,

querendo evitar com o simples

sopro de minhas palavras

os fundamentos de uma desgraça...

Estou arrasada como cidade bombardeada

em seu centro!

Hoje, rezei demais.

Juramentada,

latejo na paciência de Jó.

Se Deus olhar pra baixo, vai me ver!

Quando começo a pensar vago, falhado e torto,

a ser puxada para a estratosfera,

procuro o mastro em que Ulisses se amarrou

para resistir ao canto das sereias

e não acho.

Então, agarro-me a um lápis ou a uma caneta

aqui em baixo.

Peço a Nossa Senhora para dirigir

com os olhos o meu barco raso,

judiado pelas ondas, pelas pedras,

cheio de gente sem riso,

que só Deus pode alegrar!...

Tranco a porta e tranço um verso.

Para quem morre na guerra,

que diferença faz se a guerra é mundial ou localizada?

O fim do mundo vai coincidir

com o fim de todas as jabuticabeiras...

Já o fim de cada um de nós tem o poder de anular o mundo inteiro,

de deletar e eliminar tudo que nele existe.

Tenho a impressão de que é assim.

Quem é que sabe?...

Mas pode ser também que tenha o poder de tudo salvar e arquivar,

corrigir, substituir, inserir...

De repente, a gente é igual a computador.

E não sabe!...

Euna Britto de Oliveira
Enviado por Euna Britto de Oliveira em 10/11/2006
Código do texto: T287313