DE CIMA DO MURO

De cima do muro

ele avista a rua

e a vizinha na janela,

Ana Clara ou Anabela,

debruçada, semi-nua.

De cima do muro

também avista o mar

lançando suas ondas na areia,

e um vulto de mulher passar

lançando-lhe um certo olhar

meigo, sutil, de paquera.

De cima do muro

passa toda a primavera.

De cima do muro

quase poucos o verão.

Com seus passos rápidos,

apressados,

ocupados ao celular

ou cantarolando

de quando em vez

canções de um MP3.

E o verão passa,

quente, úmido... e juro,

com ele acima do muro.

De cima do muro,

até onde a vista alcança,

ainda tem esperança

em rever sua vizinha.

Mas a noite é mais fresca,

feito um cão sem dono,

persiste em cima do muro

sozinho, completo abandono.

De cima do muro

sente que sua vida

por entre os dedos lhe escorre.

Vão-se os medos.

De cima do muro,

casaco e chapéu

passa também o inverno

frio, lânguido, escuro,

mais perto do céu.

De cima do muro

passou toda a sua vida,

sem nexo,

perplexo!!!

Secel Barcos
Enviado por Secel Barcos em 31/03/2011
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