DE CIMA DO MURO
De cima do muro
ele avista a rua
e a vizinha na janela,
Ana Clara ou Anabela,
debruçada, semi-nua.
De cima do muro
também avista o mar
lançando suas ondas na areia,
e um vulto de mulher passar
lançando-lhe um certo olhar
meigo, sutil, de paquera.
De cima do muro
passa toda a primavera.
De cima do muro
quase poucos o verão.
Com seus passos rápidos,
apressados,
ocupados ao celular
ou cantarolando
de quando em vez
canções de um MP3.
E o verão passa,
quente, úmido... e juro,
com ele acima do muro.
De cima do muro,
até onde a vista alcança,
ainda tem esperança
em rever sua vizinha.
Mas a noite é mais fresca,
feito um cão sem dono,
persiste em cima do muro
sozinho, completo abandono.
De cima do muro
sente que sua vida
por entre os dedos lhe escorre.
Vão-se os medos.
De cima do muro,
casaco e chapéu
passa também o inverno
frio, lânguido, escuro,
mais perto do céu.
De cima do muro
passou toda a sua vida,
sem nexo,
perplexo!!!