CRISE DE RIMAS

Pela amorfia dos versos
encolhe-se nua a poética
na patética fuga da rima.
Nessa asfixia, aflitivo,
dela revivo os ornatos:
o jogo da estética,
a métrica e a harmonia.
Do solo do pensamento,
decolo p'ro desabroche no
colo da rima silente, vadia.
Não poeto fácil, fluente
tal como Sarah entendia.
Sob o estio da inspiração,
alinhavo, teço e crio
no rio da transpiração,
rumo fiel ao meu norte,
de sorte, até ver emergir
do milagroso parir
a reluzente palavra,
lavra do bem-fazer,
sem abster da bengala
na escala dos conectivos,
coronariana ponte gramátical.
Sem ela falta-me o ar,
e do lugar não saio.
Mas se não caio, é que
na gramática eu muito ensaio:
passo elegante, afinado,
bailarino e ritimado,
como a "passada menina"
da loura divina, matreira
a desfilar na quarta-feira,
faceira pára o sol,
pára o mar, pára a vida e,
páro eu p'ra me reformar
nessa conjugação temática,
antes que vitimado eu suba
por fulminante "crise rimásica."




JRay
outono/2003




jray
Enviado por jray em 12/11/2006
Reeditado em 01/05/2008
Código do texto: T288921