Confissões de um ascensorista.

Tonico é ascensorista desde sempre,

acorda cedo e vai pro trabalho feliz,

assume seu posto e só sai quando o dia diz bye, bye.

Homem franzino, gestos calmos, voz macia,

adora o que faz por incrível que possa parecer,

ser ascensorista é a melhor coisa do mundo.

Ouve as mais incríveis histórias nestes tantos anos,

histórias que vão durar até o andar chegar,

histórias que sempre deixam a melhor parte pra outra vez.

Quando a mulher do sétimo entra, Tonico vira moleque,

isso acontece dia após dia, agonia sem trégua,

só desce para o seu perfume invadir o universo todo.

Não sabe o seu nome, o que faz, por quem sofre,

não sabe de onde vem, onde vive, que medos têm,

não sabe a cor do seu sangue, o cheiro da sua nuca,

conhece cada pedacinho da sua roupa melhor que ninguém.

Um dia vai falar com ela, garante,

um dia vai levá-la para sua casa, mente,

um dia vai derrubá-la lá mesmo, demente.

Soraya, Luiza, Marcela?

Maria, Antonia, Marina?

Perla, Paula, Joana?

Flávia, Renata, Vanessa?

Um dia o elevador deixa de funcionar nessa hora,

luz apaga e ficará assim até sempre,

nenhuma testemunha além dos dois,

aquelas paredes vão então entender como funciona o liquidificador.

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 07/04/2011
Reeditado em 10/04/2011
Código do texto: T2894012
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