PAULICÉIA

A minha cidade se desfia em ruas e vielas

Como um novelo de linha e fissuras arquitetônicas

Emoldurada de cores, córregos e praças.

Do verde e do gris encharcado.

A minha metrópole das multidões cuspidas dos faróis,

Dos automóveis encavalados nos pátios das fábricas,

Embuzinadas no silêncio de seus desempregados.

Esta cidade de Chateaubriand e Niemayer

Das esquinas famosas

Das esquinas alagadas

Arranha-céus flutuantes, flamejantes

Das intensas luzes dos out. doors.

São Paulo da clássica e lasciva “São João”

Da vultosa Paulista engravatada

Das ruas que falam

De suas quilométricas avenidas

De Sapopemba a Marte

De Vênus à Indianópolis

Vastidão de feras entre esferas

Ônibus... Trens... Metrôs...

E já se falam em extinguir os velhos Trólebus

Com seus pedestres fortuitos

Automáticos.

Uma paulicéia que foge

Corre e se arrasta entre ponteiros

Encravados em relógios de praças

E pulsos espalhados.

São Paulo de traços destraçados

De nuvens acinzentadas

Dos rios de ardósias

De raízes desraizadas

Do poliglotismo cívico

Do eu e do você.

Dos momentos que passamos, debruçados sob a grama

Do Parque do Ibirapuera, nos beijando,completamente perdidos

Em nosso momento.

Verdes terras paulistanas

Talhadas de pedras e bares

De noites e dias

Confusas, silenciosas e agressiva.

Nos ares deságuam seus pássaros barulhentos

Das filas, protocolos

Dos filmes, novelas

Cidade belas artes.

Paulicéia infinita

Incógnita dos barracos, dos becos

Dos cantos e desencantos

Dos foros, cartórios e papeladas.

Este mini planeta de pauligoanos,

Pauligipanos, Pauliarenses, Paulianos,

Nipo-paulistanos;

Dos cosmopolitas filhos de suas entranhas.

Dos gritos guardados, calados

Das greves

Das segundas-feiras de virado à paulista.

Cidade dos beijos e abraços

Orgulho dos que te conhecem

Prestígio dos que te querem

São Paulo arquipélago de mármore

Luz, vidro e emoção.

Dimythryus

00h12minhr.

01/10/03

Dimythryus
Enviado por Dimythryus em 14/11/2006
Código do texto: T291035