Don Adão

Don Adão

(versão II)

Minha sina fatiga,

E eu hoje, me encanto.

Foi um dia despedida

Deste formoso canto,

Entregado agora a ausência de vida,

Outrora me fora na vida encontrando.

Amores, modéstia não tenho,

Aos prazeres, a eles me venho:

Assim, sol majestoso,

Nesse céu de cor anil,

Gesto expressivo bondoso,

No entanto, em calor febril.

Brincar e sorrir como lema,

Vivendo fazendo dilema,

Crescendo onde o homem não poderia ficar...

Seguindo, contando grãos de areia,

Procurando no mar a sereia,

Em delícias, outras carícias, tu vens me beijar.

Enfim, sair cantarolando,

Atrás de ti – meus beijos jogando!

Lembranças perdidas em seu patuá.

Na existência da nossa inocência,

Nus, num manto dourado,

A beira d’um lago a nos refrescar.

Quando domino meu gesto sereno

Percebo quão tarde para eu lhe contar,

Que houvesse entre os amores que tive,

Insanamente a loucura do verbo amar...

Em silêncio deposito meu sedativo

Adormecendo, e a ti vislumbrar...

Eu, único rastejador desse encanto,

Macieira, florescendo no mundo

Ao qual vim deflorar.

Eu, merecedor único desse canto,

Ovacionado por um som do qual possa

O mistério quebrar.

E, beijando-me com seu espírito gemendo

Possa p’ra sempre me acalentar...

Pois é mais formoso desejo,

Único que vejo ao meu despertar;

Fingindo um sonho anseio,

Já que no Éden não ousei te abusar.

Devoro-te de lábios sedentos,

E só me contento ao voltar a cantar!

Bornnye

1995

Bornnye
Enviado por Bornnye em 16/11/2006
Código do texto: T292619
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