Vôo Livre

Escrevi tantas palavras sem pressa nenhuma

e outras turbulentas, desconexas, apressadas.

Fiz rimas em tons e semitons, compus oitavas.

Tive até a presunção de avaliar uma por uma.

Debati-me na escolha dos mais variados temas

quando a musa Inspiração me abandonava

Cedi a tentação de buscar compor poemas!

Sorri e chorei, sofri, vivi e amei através da palavra.

Hoje, no silencio procuro saber o que acontece

quando brotam as palavras sem convite

como se nenhuma coerência mais tivesse,

atropelando pensamentos sem limites.

Onde a sanidade que um dia eu tive?

Despedi-me da razão num passado distante

e o sonho de que a esperança ainda vive

é o alimento de minha velha alma infante.

Passei o tempo a tecer trovas e bordar poesias

entre sentimentos e verdades desvelados

num rosário de palavras desfiadas noite e dia

como orações pagãs em altares sagrados.

Mas não confundam criador e criatura

sendo que um pode ter a essência nobre

e outro ser apenas a outra face da loucura,

ou ter sobre os ombros, da morte o dobre?

Escrevo tantas palavras ainda desconexas

ligadas pela irreverência, ou pela paixão.

São como eu espelhos de uma imagem complexa

embaçados de propósito impedindo a visão.

Sem querer agradar a gregos ou troianos

abri as comportas e liberei toda a emoção...

Sou fenix renascida dentre os humanos

com as asas abertas voando rumo a imensidão.