POEMA PARA UM ESQUERDISTA

Lá vem ele com sua bandeira rota,

falando de luta e revolução!

Com carinhoso desprezo, escuto

suas estropiadas palavras.

A sua boina de Che Guevara...

debaixo dela uma cabeça antiga,

cheia de ideias contraditórias

sobre a vida dos homens.

Fala em liberdade e aplaude

a ilha de prisão de Fidel.

Fala contra o sistema e elogia

as maquinações de Chavez.

Chama de opressora a maior

das democracias

e se esquece da agonia soviética,

dos milhões de mortos

sob o punho férreo de Stalin,

Mao,

Pol Pot.

Ele me diz que o abortamento

é um direito da mulher,

mas é contra a pena de morte

para assassinos e ladrões.

Deixa que bebês sejam sacrificados

e chora quando um sapo cururu

é obrigado a deixar seu charco,

por conta das obras de uma usina.

Ele canta em verso e prosa

as maravilhas do desarmamento

e se esquece que os maiores ditadores

eram favoráveis a que o cidadão

não tivesse armas em casa.

Lá vem ele com sua bandeira vermelha,

alçando bandidos a condição de santos

e gritando contra o Cristianismo,

a cultura ocidental,

o capitalismo,

e usufruindo de tudo

o que eles oferecem.

Fala bem dos palestinos,

mas não vai lutar ao lado deles.

Fala das benesses de Cuba,

mas permanece na periferia

de nossa cidade.

Do seu computador envia mensagens

pela internet:

prega a revolução,

a ascensão do proletariado,

o fim do capitalismo,

a punição dos torturadores,

a exaltação do lulismo.

Contraditório,

atrasado,

tolo.

Com sua camisa do Che

e sua bandeira vermelha,

segue seu caminho

perigosamente desengonçado.