acriançar

cá algumas cartas
mensagens simples
'bilhetinhos' descorados
a lembrar detalhes do real
avisos que ditam o momento de acordar

[sorriso de remanso]

dou-me por iludida,
sou desatenta
adoro a utopia
é atraente a veleidade:
rodopio, bailarina,
e me basto em poesia,
sonolências e melodia

a realidade arrefece
as quimeras da 'minha' menina
a pequena que habita meu adentro
teimosa e obstinada
arraigada às ações diminutas
juro, padeceria sem infantilidade

que delícia observar janelas ao vento ! 
'confundindo' todos os bilhetes,
os recados, aqueles papeis
de responsabilidade:
vão-se para o alto...'shhhh'
e voem os mandados, as incumbências...
aos soprados esquecimentos

ai! o relógio sem ponteiros
tem o cuco amalucado
já não canta o exato da hora
desafina minutos sem noção
e a delícia da brisa fagueira a brincar
entre meus cabelos...

são essas imagens de encanto,
substâncias incorpóreas, pequenos
detalhes que me incitam
ao alento, azulecendo-me
despertando-me a criança... 

[na retina dos meus olhos
tem luar em crescente poesia] 

:

mas, neste exato momento
desperto e respiro realidade