REFLEXO
Exprimo e sou expresso
Espremo a expressão
A palavra me olha. E ri.
Existia antes de mim.
Sou apenas expiração.
Desprendida da matéria
vive a ideia e já não me pertenço.
Verifico-me no que ali está.
Leio a arte. Já não sou eu.
É-me estranho aquele que me escreve,
muito embora, seja íntimo do poeta
aquele que é expresso.
Mais ou menos me escrevo;
Mais ou menos me anexo;
Mais ou menos me projeto;
Mais ou menos sou excesso.
Mais ou menos é quase sempre.
Toda alma tem esse movimento pendular.
E nenhuma nos pertence.
A sua - não é sua propriedade.
A minha alma, que não é minha,
ensinou-me a viver sem a ilusão tê-la.
Me faz movimentar; Faz meu sangue
percorrer quilômetros; Mas não se prende à carne.
A carne é que tem o constante desejo de se prender
eternamente à vida, criando uma espécie de sofrimento.
“A minha alma, que não é minha, - dela sou eu -
poeta e dita. Adora poetar.
Tenho orgulho de vê-la em liberdade.
E digo ao mundo, de peito aberto:
«Uma alma livre, tem o nome de felicidade»”