SEQUESTRO

E porque chegaste devagar,

muito manso, não percebi

as primeiras flores mortas

pisoteadas no chão do jardim.

Abri as portas e me perdi.

Bandido disfarçado, cobraste

com violência velada

rendição e entrega.

Presa em cativeiro, ausente do mundo,

fui vítima da dependência cega.

Sem algema ou corrente

a dor doía mais e mais fundo...

Roubada de mim

sem horizonte de sentido

a liberdade desaprendi.

Negociação recusaste.

Na terrível e dura solidão

desesperada me neguei

o direito de ser.

Paguei o mais caro resgate.

À beira da loucura, um milagre aconteceu.

Tão distante de tudo recobrei a visão

passei a crer na beleza do sonho possível.

Renovada, libertei-me da clausura.

Comprei novamente o que sempre foi meu.

Lina Meirelles

Rio, 06.05.11