Pequenos recessos do chão

Euna Britto de Oliveira

www.euna.com.br

Ah, como a riqueza cansa!

Tanto que administrar!

Como a pobreza amansa!...

Tanto que suportar!...

Tudo pode acontecer.

Só o que não pode é permanecer essa tristeza!...

As jóias partidas, levei para emendar.

As sedas do oriente, tive de costurar.

As tapeçarias,

muito mais que sobre elas,

pisei o chão

para escolher,

até gostar

e comprar.

Quase tudo infinitivo.

Quase tudo infinitamente trabalhoso e vão,

insensato e oco.

Nem as jóias, nem as sedas, nem a lã me consolam.

Estou pobre de paz, de amor, de valor...

Desconfortavelmente chã.

Subo em meu Tapete Mágico

e vejo tudo de cima.

A visão do todo me sobra.

A sombra do nada me assombra.

Nem sinal de ouro, nem de seda, nem de lã...

Nada se vê, do que está guardado nos cofres,

nos Bancos, nos esconderijos mais recônditos das casas...

Vêem-se apenas a faina, o afã, o transitório, o ilusório.

E onde Deus é, há o esplendor!!!...

Adeus, tristeza!

Meu Tapete Mágico, até breve!

Gosto de ver em você!

Gosto de ter você.

Não posso ser sem você.

Moro em Belo Horizonte há mais de seiscentas semanas.

Visito a Perfumaria Lourdes e as Casas Pernambucanas...

Distrações...

Abstrações...

Não pra fingir.

Não pra fugir.

Energização!

Para aguentar continuar!...

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Belo Horizonte, 22 de novembro de 1980

Euna Britto de Oliveira
Enviado por Euna Britto de Oliveira em 22/11/2006
Código do texto: T297971