[Capítulo I] O Surgimento de Raimundo Nonato
Sua senhora não te cobriu
Cresceu no meio do sertão
Onde se criou como bicho do mato.
Nasceu de um útero frio,
Falta-lhe Pai na sua certidão
Deram-lhe um nome, Raimundo Nonato
Ela, na dor, rezou para a Mãe das Mercês
O relógio se aproximava do próximo mês
À gosto de Deus, ela morreu
À gosto de Deus, o menino nasceu
Nasceu, com o pescoço na foice da Dama
Raimundo Nonato cresceu com a febre
A febre do sertão, matando em lentidão
Raimundo Nonato cresceu com a fome
A fome nascida do chão, platada com devoção
Raimundo Nonato cresceu com a farsa
A farsa de uma nação, repressora da paixão
Raimundo Nonato cresceu com a farinha
A farinha da vida, alimento de sua população
Raimundo Nonato cresceu com a família
A família da união, de geração à geração
Cresceu, com o pescoço na foice da Dama
A lâmina usurpava sua alma dia-a-dia
Nas gotas de suor que no metal pingava
A alma detinha a luz que seu corpo protegia
Era a fé que o próprio cavava e cavava
O corpo febril à liberdade se conduzia
Doença de batismo, em sua vida cravada
Enquanto, para Deus, seu corpo se encaminha
As suas sementes na terra foram plantadas
Raimundo Nonato se deparou com quem o perseguia
A Dama da Noite que alegre cantava e cantava
Morreu, com o pescoço na foice da Dama
Suas sementes plantadas com fé
Deixaram a terra adubada
Seu trabalho fez surgir alguns pés
Que foram nascer na senzala