PROTESTO

Não sei bem por que escrevo...
aliás, nem sei se devo
prosseguir nesta labuta
dificultosa e que custa
dias, noites mal dormidas,
tentando entender por que a vida
machuca sem piedade,
esquecida da bondade
com que deve me tratar.
Não sei, não, porém a mágoa
enche os meus olhos d'água
- ponho-me, então, a chorar.

Vida louca desabrida,
que passa, que vai de corrida,
sem olhar, sequer, pra trás.
Para um pouco, se demora,
conforta-me a carne alquebrada,
consola minh'alma cansada,
escuta o som dos meus ais.

Vida doida, vida insana,
que além de tudo profana
a sorte da tua cria
numa eterna tirania
fazendo ruir seu castelo,
e o sonho de amor - o mais belo.

Tu que sempre me maltratas,
diz-me onde escondeste
(ou, acaso, tu perdeste?)
a minha taça de prata,
aquela a mim prometida
quando nasci. Vida, vida!