Quebra de braço com um parasita

Era um garoto tão forte, cheio de sonhos e determinação;

Montava a cavalo como nenhum outro dos meus dez irmãos.

Corria pelos campos da pequena fazenda do papai.

Como todo garoto da sua idade, andava de pé no chão.

Não gostava muito das letras, era fato,

Fazer ir à escola era uma luta, uma chateação.

Gostava mesmo era de acompanhar o papai.

Esta era sua grande paixão.

Porém, papai que era homem letrado dizia:

“Não quero saber de filho meu sem estudar,

Deve ficar na cidade pra concluir os estudos,

Esta é a herança que vou te deixar”.

Mas ele não dava liga pra esta prosa.

Continuava cavalgando pelos campos e tomando banho na lagoa

Chupando fruta no pé e correndo atrás das vacas

Levando a vida de boa.

Filho mais velho dos muitos irmãos.

Ajudava a mamãe cuidar dos porcos no chiqueiro,

Dava milho para as galinhas no poleiro,

Não se importava com o dinheiro.

Ajudava o capataz na ordenha das vacas

Dava até banho nos irmãos pequenos.

“Um fio de ouro”! Dizia mamãe.

Ela não sabia que seu filho já vinha sofrendo.

Uma dorzinha de barriga vez ou outra

Que não contava pra ninguém

Disfarçava as fraquezas nas pernas

E outros males também.

Eram sinais de alerta de saúde fraca.

Mas nada que não pudesse ser tratado,

Com o poderoso chá de boldo e leite tirado na hora.

Num piscar de olho, mamãe deixava todo mundo curado.

Aparentando cansaço no fim do dia

Recusou a janta e foi se deitar

Era o agravamento de uma doença

Que chá nenhum ia curar.

Papai, desesperado decidiu:

“Vamo levar esse minino pra capital”.

“Filho meu não morre a míngua”.

“Isso não deve ser doença fácil de tratar”.

A viagem foi providenciada, um doutor iria examinar.

Foi confirmado que um "bichinho" da lagoa

Era a causa daquela má,

Que poderia até matar.

Um corte grande na barriga

Para extração de um órgão destruído

Por uma tal de esquistossomose

Bicho, até então desconhecido.

Ele logo ficou sabendo, da doença adquirida

Nos banhos de rio e da sua lagoa especial.

Não sabia que banhos tão divertidos

Iam deixar sequelas graves e numa cama de hospital.

A doença lhe afastou dos campos

Foi morar na cidade em busca de tratamento.

Cresceu, trabalhou, casou e teve filho.

Daquele bicho medonho, esquecia por alguns momentos.

Mas, aquele bicho adquirido na lagoa

Não tinha brincado em serviço.

Aquela disposição de menino ficou para trás

Mamãe dizia: “ Isso parece feitiço”.

Sem o baço que perdeu para a esquistossomose,

Seu fígado ficou sobrecarregado das funções

Novamente, a doença que o levou para a cidade

O trouxe de volta para o sertão.

Papai já não está mais entre nós

Para nos ajudar nesses momentos de aflição.

Mamãe, já idosa, até hoje não entende

Como uma água tão cristalina pôde fazer tanto mal ao meu irmão.

Que viveu seus últimos dia sem graça

Triste vida, vida esquisita

Parou de correr nos campos

Perdeu a luta para um parasita.

Descanse em paz meu querido irmão