Orgasmos
Orgasmos
Angélica T. Almstadter
Vem como um delírio esse desejo
Essa fome essa falta de beijo
Sob a luz tênue do candeeiro
Embriagar meu corpo seresteiro
Cada palmo do corpo que se agita,
É uma saudade que grita,
Uma volúpia doce e desmedida,
Aflita, que busca uma saída.
Meu corpo esquecido confessa,
No silêncio da penumbra sem pressa,
A explosão cerrada entre dentes,
Da carne, em apelos frementes.
Percebo entre luzes meu cortejo,
Em notas simples do realejo,
Deixo escapar no grito do espasmo,
O torpor que com delicadeza plasmo.
Se encaixa nos meus lábios um nome,
Em alto e bom som se consome,
Devorado no calor da febre mecânica,
Na torrente da lava vulcânica.
Um após outro, em torvelinho,
Se perdem no meu corpo em desalinho;
Acalma os frêmitos em doçura,
E repousa na paz da candura.
A lacuna aberta, um momento e a loucura,
Pedem silêncio para gritar a jura,
Apertada e contida em segredo,
Se desfaz em lágrimas e medo.
Pode dormir agora ao relento,
Rabiscar em prosas e no vento,
A esperança opaca e quase escondida,
A mesma que se entregou sem medida.
Corre pelo corpo em aflição,
O desejo que amou na contramão.
Quantas janelas pode ter um coração?
Se pela porta só passa a razão.