RESTAURAÇÃO

No silêncio da noite,

no meio da densa escuridão

salpicada pela intermitência da luz

que, qual corpúsculos de ilusão

ensandecida no contínuo afagar

de suspiros sussurrados,

chega pingando envergonhada

através da ténue cortina nebulosa,

jaz ansiosa a esperança,

quase morta pelos algozes perfilados

que mutilam anseios e emoções.

Na vastidão da solidão,

teia urdida no íntimo de um ser

que, querendo, renega e se renega,

até mais não ser que uma réstia

de emoções frustradas na vereda

de uma (in)existência sofrida

em que negada foi a felicidade

pelo despertar egoísta da ambição,

jaz prostrada a liberdade,

torturada pelos próprios que a pregam

mas que a tolhem e amordaçam.

Mas no etéreo sopro sideral,

infinito anátema gerado e regenerado

nas íntimas confluências das emoções

recalcadas por séculos de paixões

confundidas de razões e questões

nunca eternamente esquecidas,

arriba fulgurante um ginete escorreito

que, qual cavaleiro por uma qualquer dama,

ajaezado se revela para submeter,

em viris estocadas de sentimentos,

os usurpadores, os traidores,

e restaurar

no silêncio da noite,

na vastidão da solidão,

das profundezas da alma,

toda a nossa emoção.

Sintra, 12/11/2006

António CastelBranco
Enviado por António CastelBranco em 25/11/2006
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