esperança e milagres

Também quero saber onde tem gente neste mundo / que não seja um crente / incluindo aí os ateus / eles crêem que não crêem na existência de um Deus//

Eu que sou bicho de montanha / agora morando numa ilha / olho a maré que sobe e desce / às vezes a espero baixar para atravessar a praia //

Assim como o homem é o deus das suas galinhas e porcos e pastos / é ele o mar além do sol e os meus pais e seus ancestrais o Deus mais próximo de mim / ou uma parte dele //

Posso quase sentir como se sentem os insetos atravessando uma enxurrada ao léu numa folha de papel / e não ousem tratar minhas rimas por rimas pobres / é que elas não são maiores que eu //

O sol que tratamos por nosso me dá a vívida impressão de ser mesmo um dos olhos de Deus / ou será ele mesmo um //

Os outros (olhos) estão fora do nosso alcance / cuidam de outras unidades //

E o vento //

O vento / ele fala comigo / não na parca lingua dos homens / é em sopros / e eu venho aprendendo a ouví-lo //

Hoje matei uma barata que nem queria me matar //

E acidentalmente uma borboleta noturna / acompanhei a sua agonia / suas vísceras estavam expostas / e eu não sabia como tratá-la // Nunca sei salvar ninguém //

Só a coloquei sobre uma folha de limoeiro e torci para que se recuperasse //

Acho que eu esperava um milagre //

Descubro que estou sempre esperando milagres acontecerem / não tão grandes assim / mas pequenos e possíveis //

Tenho muito a aprender com os insetos / até sobre eles mesmos //

Tomara Deus que eu possa... //

Suzane Rabelo
Enviado por Suzane Rabelo em 04/06/2011
Reeditado em 04/06/2011
Código do texto: T3014178