Podia no silêncio profundo destas linhas
Podia no silêncio profundo destas linhas
Dizer-te muitas coisas
Talvez coisas a mais e que, mesmo algumas banais,
As pudesses ouvir com gosto
Podia enlear-me em teorias sobre as metáforas do teu rosto
Praias desertas de sentido onde morre um sol já posto
E podia falar-te das estrelas e do mar
Contar-te historias e mentir-te só pelo prazer de inventar
Podia cercar de palavras os teus lábios
E no cristal de uma manhã quebrar os silêncios entre os passos
Podia segredar-te qualquer coisa
Palavras ternas ou esperanças
E queria acima de tudo dizer-te verdades
Daquelas só minhas e que tenho por estimação
E que verdade só em mim o são
Queria descrever-te viagens que não fiz
Os países que não conheço e ensinar-te só a ti
Todas a línguas que não sei
Contar-te ao ouvido historias de reis errantes
E todas as historias de todos os amantes
Que em noites, como esta, como nós se perderam
E podia fazer navegar versos nas ondas do teu cabelo
E mostrar-te as planícies da tua pele
E poderia talvez mais…
Mas o fundo dos teus olhos
(Onde ainda és a criança que inocente sorri
Por entre a seda das manhãs)
É mais profundo que tudo isto
É mais profundo do que tudo o que posso dizer
Talvez seja isso que me mantêm suspenso no teu rosto
Enquanto lá no fundo dos teus olhos
Por entre as manhãs mortas que carregam
Existe uma menina olhando-me espantada
E esperando, sempre, a próxima palavra que não digo
Tiago Marcos