A TERRÍVEL ESCURIDÃO DA LUZ
(Vinde a mim todos os que estão cansados e apagados e eu vos acenderei.)
Tudo que se move,
pássaros e guisas de vento,
mesmo nas funduras do tártaro,
é luz.
Na revelia profunda
da carcaça
há luminárias,
brilho persistente
como o soar de pífaros
na noite
nos iluminando o fundo
fosco
dos olhos.
Desde o dia,
molhado em trevas,
que se abateu
sobre o esteio do paraíso
bailando nas asas do pássaro (...)
A luz acompanhava a carne
(...)
E talhava rochas,
e rangia tambores,
e visitava a beleza/nudez
e se comovia de horrores.
Antes,
muito antes
do grito e da fome
da terra;
da letra em forma
de cunha
sobre o pergaminho
árabe.
Antes (mesmo),
Deus, muito antes
da verticalidade (?)
do homem e do
(du)elo perdido
a luz habitava
e já se personificava
nos olhos do pombo
na extraordinária arte
de se extrair
serpentes incendiárias...
Porque
tudo que se move
é verbo;
tudo que é verbo
é alfa
que se compactou em pó
de esfinge
habitando no silêncio
das pirâmides.
Tudo que é pó é luz
mesmo metamorfoseado
em ofídio,
cuja luminiscência
é o medo
nos rostos
deformados,
surgindo da própria
escuridão do ser,
na interna capacidade
de reproduzir abismos (...)
No ígneo
é onde estamos
submersos de luz.
Luz que vive,
teme e clama!
Essa luz
que habita
sob a visão
da imagem, incauta
ao prisma do juízo.