PLENITUDE

Há homens que nascem fora de tempo.

Os póstumos,

(deviam ter nascido no passado),

Os prematuros,

(deviam ter nascido no futuro).

Os póstumos erguem um muro à sua volta

Para esconder suas fraquezas.

Costumam esquecer as canções da infância

Com medo de serem confundidos com lobisomens.

Seus lábios estão cobertos com teias de aranha

Suas mãos de tanto fazer o sinal da cruz

Perderam a sensibilidade.

Não conseguem entoar as notas

De uma partitura empoeirada.

Os prematuros logo se revelam

Na ousadia de seus gestos descontentes.

São gatos caçadores da noite

Mas que usam o dia como um tapete mágico

A levá-los ao reino da andromania.

Escalam escadas invisíveis

Para invadir os jardins alheios

Com o propósito de libertar as donzelas

Enfeitiçadas por pastores feiticeiros.

Eles se eternizam,

Porque o tempo corre atrás deles.

Há homens que nascem

Na plenitude dos tempos.

Seus passos estão sempre em sintonia

Com a música do vento.

O passado é uma saudade

Que ele transforma em flores e poesia.

O futuro é apenas uma extensão dos seus sonhos.

Eles têm a vida presente, como Drummond,

E o sentimento do mundo.

São os poetas

henrique ponttopidan
Enviado por henrique ponttopidan em 14/06/2011
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