Versos de sombra e luz

Já fiz canções de cores belas, entoei odes as estrelas, criei versos de amor, dor, esperança, amizade...

Brinquei com as palavras, fiz amor com elas. Pranteei sonhos, descrevi pesadelos, sepultei ideais, renasci entre destroços de mim mesma.

Não houve um dia sem que a lagrima se unisse ao riso, e disso tudo pudesse recriar otimismo, ainda que as avessas, tantas vezes.

Fui terra fértil de onde brotaram flores e frutos, alguns frutificaram outras terras, outros, não.

Levei água pura a lábios sedentos, mas também deixei escoar essa água de volta ao chão.

Acendi lareiras em corações magoados, abri janelas e deixei entrar o sol em almas reclusas. Algumas sorriram, outras, bem... cerraram as portas outra vez.

Soprei com o vento, sons e aromas, visões e encantamentos de paz, e paixão. Fui brisa, lancei sementes de luz na escuridão. Mas também fui fúria sem razão, tornado trazendo destruição.

Gritei junto aos revoltosos, brandi a espada sem perdão.

Eu, que preciso do perdão negado, da alforria descartada, fui carrasco e castigo.

Olho o belo, a beleza, o sorriso e a graça, a luz e a sombra no coração.

Espelho o que vejo, o pranto e a alegria, solidão e companhia são ecos na imensidão.

E os versos que hoje componho, são pedaços de um sonho meu, seu...da multidão.

São palavras sem retorno lançadas em épocas passadas, desde antes da cruz e do caldeirão. São promessas de um futuro semeadas no ontem remoto sopradas pelo vento desde o deserto escaldante ao oceano sem fronteiras.

São fontes cristalinas imortalizadas em retinas inocentes como cristais pendentes nas cavernas submersas.

Os versos de sombra e luz afloram como icebergs errantes pelos mares inexplorados. São ecos de almas cansadas, ainda crentes que a eternidade é um instante perpétuo no desfile do tempo. Como ondas revoltas, pássaros libertos, certos que o céu é o limite sem fim de um vôo imortal.

E onde a luz encontra a sombra, seja penumbra ou névoa, seja oculta ou desvelada, a cor se entrega aos sons inarticulados, sentidos, percebidos sem jamais serem explicados.