DOMINGOS, FINS-DE-SEMANA E FERIADOS

fim-de-semana,

o riso nos chega aos poucos

anunciando a chegada do Domingo.

Indisfarçável é o prazer da preguiça

de ficar mais um pouco

- uma, duas, três horas; tanto faz... -

a mais ao teu lado, amanhecido!...

No Domingo,

há tempo de sobra:

pára tudo!

Manuel, o taxista, deu um banho em regra no carro;

Alfredo, o esportista, esqueceu seu corpo na rede;

D. Zizinha, a aposentada, deu de beber às flores;

Zé João, cardiopata, andou sem se desgastar;

Bebel, a adolescente, ajustou um biquíni

minúsculo justinho ao corpo

para que Beijoca, seu namorado,

desistisse de jogar futebol

e com ela fosse à praia.

da janela,

olhando o mundo

sem sair de casa

o calendário de doze meses

- vermelho-envergonhado pelo ócio -

marcava os dias da tua alma renascida,

sempre e sempre ao meu lado:

descansada,

nela há um brilho consciente

que denuncia a chegada dos Domingos

ao lembrar-se da menina sem seios

de perninhas e mãos tortas

brincando de modelar areia;

quietinha,

dentro desse corpo protegido

guarda, sem medo, o sigilo e o endereço

até do sono inútil, enquanto, nas noites úteis,

acorda-me sempre para um feriado inesperado.

Abstrairemos os mormaços,

tomaremos uma cerveja bem gelada,

mesmo que não gostes de beber;

mas participarás do sabor da minha boca!

Cresceremos quais meninos,

os mesmos de pernas tortas e mãos finas,

fascinados pelo frescor dos ventiladores,

apesar dessa nudez tanta que nos veste e arde

confidenciando todos nossos segredos de infância.

Hoje,

é só começo de Domingo.

Desenhados,

meus dedos gravados em teu corpo

provocam em ti um arrepio inteiro

sem a pressa do namorado primeiro.

Nunca, jamais, amar-nos-emos antecipadamente.

Hoje,

ainda um começo de Domingo,

os sonhos não tiveram tempo de acordar,

insistem em dar forma ao impalpável,

apesar dos sobressaltos reais do meio de semana:

Manuel, o taxista, foi assaltado algumas vezes;

Alfredo, o esportista, treinou sem patrocínio;

D. Zizinha, a aposentada, regou jardins;

Zé João, enfartado, procura doadores;

Bebel e Beijoca trocaram um beijo.

Quereremos mais e mais outros Domingos

- feriados ou fins-de-semana –

para nos guardarmos para as coisas mais simples:

saber conviver com o cheiro e com os espinhos;

falar, mesmo com toda a zanga, de mansinho;

entender todas as meias palavras não ditas;

deixar o tempo viver sem contar feriados

no nosso apartamento

- novinho em folha –

do tamanho exato,

na altura, no peso e na medida,

onde cabe espaço para o amor verdadeiro.

Enquanto os Domingos, os fins-de-semana, os feriados, tudo enfim

- por mais que estejam distantes uns dos outros -

possa, para nós, parecer muito e muito pouco,

adoçaremos as bocas no branquinho do algodão-doce,

comeremos pipocas de mãos dadas num saquinho,

beberemos, sem canudinhos, todas as águas-de-coco,

economizaremos, do pouco salário, para os desejos comuns:

duas entradas para o circo, para o cinema, para o teatro ou, espetáculo!,

um jantar especial na data de aniversário do nosso primeiro encontro,

uma noite inteirinha no motel para deitarmos qual recém-casados.

até dormimos juntos, bem juntinhos!... Sonhando até o acordar.

Amanhã,

se a lei natural dos casais

- a mais sábia de todas as sábias –

prevalecer,

após um abrir e fechar de olhos,

acordaremos com um choro ao nosso lado:

excesso de amor dos fins-de-semana!

Amanhã,

se a lei natural dos calendários

- o mais primário perseguir o tempo –

sobreviver,

sem as mulheres nuas das folhinhas,

acordaremos juntos como no nosso primeiro Domingo,

e improvisaremos feriados a cada centímetro do filho:

Manuel, certamente, terá trocado seu velho táxi;

Alfredo deverá ter ganho alguma medalha;

D. Zizinha estará viva entre suas flores;

Zé João convalescendo, sob cuidados;

Bebel e Beijoca, fatalmente casados...

enquanto o apartamento,

antes novinho em folha,

será reformado com a risada desse filho

incansável, até sem feriado, a nos acordar!..